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Saiba por que quem tem dinheiro no final do mês compra mais e melhor

Os últimos dias do mês e os primeiros do seguinte, até a véspera do dia 5, quando muita gente recebe o salário, coincidem com o período de preços mais competitivos e promoções

O consumidor que organizou o orçamento doméstico de modo a não ficar sem dinheiro no período entre os dias 20 e 5 de cada mês pode tirar proveito de preços mais atrativos no comércio nesta época. Não é uma tarefa fácil, mas pode compensar.

No mercado de hortigranjeiros, por exemplo, o comparativo semanal da Ceasa, divulgado nesta quarta-feira, aponta 17 produtos em baixa e 14 estáveis - apenas quatro registraram alta na comparação com o levantamento do dia 22 de julho. A queda nos preços, conforme a análise da gerência técnica, dá conta de que esta foi uma semana de grande retração na aquisição de hortigranjeiros. Mais produto na prateleira e menos procura, ocasiona, neste caso, a queda no preço.

- Nos dias em que tem bastante produto e pouca procura, o produtor baixa o preço, ou tem que levar de volta. Agora, quase tudo está mais barato - observa o feirante Jorge Pires, 54 anos.

No caso dele, que vende folhosas, a alface, por exemplo, está mais barata também porque cai o consumo no inverno. Na semana passada, o pé custava R$ 2, e nesta quarta, R$ 1,50.

Final de mês

Nos últimos oito, dez dias do mês, a funcionária pública Vera Tavares, 50 anos, costuma reduzir os produtos mais caros da lista de compras. Tira a carne, entra o frango. Na quarta-feira, ela fez compras na feira livre do Jardim Leopoldina, onde encontra preços mais favoráveis.

- Sempre faço uma compra maior no começo do mês, compro óleo de soja, feijão, arroz. Depois, a gente faz a ginástica para o dinheiro durar até o final do mês - explica.

Segundo a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), de um ano para cá, os consumidores estão optando por fazer uma compra de maior volume no começo do mês -  quando geralmente há promoção de itens básicos, como leite, por exemplo, para atrair o cliente que está com dinheiro.

Depois disso, fazem compras menores, jogando com o orçamento e abrindo mão de alguns produtos para garantir outros. Nos últimos dias do mês, é comum haver mais promoções de supérfluos no súper.

Pagamento frequente ajuda

Já a diarista Salete Lorenço, 42 anos, vive uma realidade diferente: como recebe o pagamento mais seguido, por realizar faxinas de segunda a sábado, na maioria das vezes consegue aproveitar as promoções. As contas fixas, como água, luz e telefone, ficam com o marido, que trabalha na construção civil e recebe salário fixo.

- O miúdo fica comigo. Compro pão, leite, uma fruta. Quando não dá para comprar um queijo, a gente não compra, deixa para mais adiante - explica a consumidora que não perde a oportunidade de pechinchar porque tem poder de compra.

Menos corridas e mais promoções

O diretor de sustentabilidade da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Porto Alegre), Rafael Wainberg, também confirma que, historicamente, a última semana do mês e a semana seguinte, são as de menor venda. As metas dos vendedores inclusive são reduzidas no período por conta disso. O único mês em que isso não acontece é dezembro, por conta do 13º salário e as compras de Natal.

- O consumidor paga as obrigações, garante o que precisa para suprir a família e, por último, vêm os bens de consumo. E aí essa demanda cai. É uma tendência comportamental - diz o diretor, sem precisar percentuais por conta da diversidade de segmentos.

Segundo Rafael, neste período, o lojista está mais aberto a realizar promoções, a renegociar dívidas, aumenta a flexibilidade na forma de pagamento, e há até a possibilidade da distribuição de brindes.

- É quando colocamos os produtos em promoção na porta, mudamos as vitrines, para pegar quem passa, aquela compra por impulso. Tem clientes que já sabem disso e vêm neste período - afirma Rafael.

Em outras áreas não é diferente a queda na procura. O presidente do Sindicato dos Taxistas, Luiz Nozari, explica que do dia 20 até o dia 5 de cada mês é a entressafra para o serviço de táxi, com queda de 30% a 40% nas corridas. Mas o valor pelo serviço, diferentemente do comércio, não muda nesta época.

- As pessoas recebem entre os dias cinco e dez, aí gastam, saem para se divertir e depois termina o dinheiro - observa Luiz.

Promoções que fisgam

Na loja de bolsas onde Olga Kessler trabalha, no Centro, diariamente mudam os produtos que estão em promoção na entrada do comércio. A estratégia ajuda a chamar a clientela.

- Fazemos a mudança porque a promoção chama. Não podemos deixar o cartaz "só hoje" no mesmo produto por três ou quatro dias porque o cliente percebe - observa.

A microempresária Geciane Antunes, 27 anos, e as amigas vieram de Sertão Santana e Barão do Triunfo para aproveitar as promoções.

- Essa é a melhor época para comprar! Chegando na loja, a gente descobre que tem desconto no cartão, que parcela, não precisa dar entrada - diverte-se Geciane.

Já a amiga Eliete de Deus Vasques, 22 anos, economizou para fazer as compras. Comprou o vestido da formatura e mais algumas coisinhas. A vendedora Juliane Vasques também não resistiu às promoções e saiu cheia de sacolas para a filha Kauane, dez anos.

- Aqui tem vestido, sapato, lingerie, compramos mais por impulso! - comenta Geciane.

Como começar o planejamento financeiro

O segredo é o planejamento. O primeiro passo é colocar num papel dividido em duas colunas: quanto ganha de um lado e onde/em que gasta de outro. Saber para onde vai o dinheiro é fundamental. A partir daí, será possível identificar excessos que podem ser cortados. É importante viver dentro da sua realidade financeira.

O problema de quem empata o valor que ganha com o que gasta é a falta de uma reserva para o caso de um imprevisto. Uma dificuldade que surgir poderá desorganizar o orçamento por um bom tempo.

Compre o que precisa, quando precisa e não apenas porque está em promoção.
Dicas do economista e consultor financeiro Éverton Lopes.

Preços na Ceasa

Comparativo semanal (preço do dia 29 de julho, em relação ao do dia 22)

Abacate especial (kg): R$ 2,10 (-5,41%)

Banana caturra/nanica (kg): R$ 1,40 (-6,67)

Banana prata/branca (kg): R$ 2,25 (-6,25)

Maçã Fuji (kg): R$ 2,30 (-8%)

Agrião (molho): R$ 0,67 (-19,28)

Alface (pé): R$ 1 (-20%)

Repolho verde (kg): R$ 0,55 (-15,38%)

Chuchu (kg): R$ 0,80 (-20%)

Milho verde (sacola com três): R$ 1,50 (-16,67%)

Pepino salada (kg): R$ 1,75 (-12,50%)

Pimentão (kg): R$ 2,50 (-16,67%)

Alho importado (kg): R$ 8 (-11,11%)

Batata branca especial (kg): R$ (-9,09%)

Batata doce (kg): R$ 1,50 (-14,29%)

Batata rosa especial (kg): R$ 1,10 (-8,33%)

Beterraba (kg): R$ 1,10 (-12%)

Cebola nacional (kg): R$ 1,40 (-12,5%)

Cenoura (kg): R$ 1 (-20%)