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Emprego reage, mas tem o pior semestre dos últimos 10 anos
Segundo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, o País criou cerca de 300 mil vagas no primeiro semestre deste ano
Raquel Landim
O Brasil fechou o primeiro semestre com a criação de mais de 300 mil postos de trabalho com carteira assinada, informou ao Estado o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. É o pior resultado dos últimos 10 anos e está muito abaixo dos 1,36 milhão de novos postos gerados no primeiro semestre de 2008 e mesmo das 561 mil vagas de 2003, quando a economia brasileira cresceu pouco.
Até maio, o saldo entre contratações e demissões estava em 180 mil postos. Em Maceió, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que em junho foram abertos 136 mil novos postos de trabalho. "Em julho, esse número deve aumentar para o desespero da oposição", disse Lula. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) devem ser divulgados amanhã.
O dado de junho ficou abaixo das estimativas dos analistas de mercado de trabalho. "Se confirmado, o número não é um desastre, mas decepcionou", disse Fábio Romão, economista da LCA Consultores. A consultoria projetava a geração de quase 200 mil vagas em junho. Na divulgação do Caged de maio, Lupi chegou a estimar a criação de 350 mil a 400 mil vagas no primeiro semestre.
O ministro não deu detalhes, mas disse que junho deve manter o padrão dos últimos meses, com recuperação mais forte dos serviços e da construção civil, mas estagnação da indústria, que parou de demitir, mas não avançou nas contratações. Até maio, a construção gerou 61 mil vagas, a agropecuária 71,7 mil e os serviços 242,9 mil.
Lupi afirmou que mantém a meta de que o País vai criar 1 milhão de postos de trabalho este ano. "O segundo semestre deve ser muito forte para o emprego. Os setores automotivo e da linha branca batem recorde de vendas graças aos incentivos do governo federal."
Os economistas projetam que a taxa de desemprego no País pode chegar a 8,7% este ano, acima dos 7,9% de 2008, o nível mais baixo desde 2002, quando o IBGE modificou a base de dados. A deterioração do mercado de trabalho vai reduzir a taxa de crescimento da massa salarial de 6,1% em 2008 para 3,1% este ano, conforme a LCA Consultores.
Segundo Romão, a queda é atenuada pela inflação baixa, pelos reajustes do salário mínimo, pela maior renda proporcionada aos beneficiários da Previdência, e pelo Bolsa-Família. "O emprego nos setores de serviço e construção civil foram os pioneiros da recuperação", disse.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, explica que a recuperação da economia ainda está muito "desigual". O mercado interno reagiu e os estoques das indústrias foram reduzidos, o que colabora para mais contratações, mas a queda das exportações e o investimento são fatores negativos.
Um levantamento da consultoria apontou que a recuperação do emprego e da renda está concentrada nas pessoas que ganham até um salário mínimo. Acima desse nível, o emprego ainda está em queda. "Voltamos ao padrão de 2006 e 2007", disse. Ele reforçou que a deterioração do emprego industrial colabora para a mudança, porque é o setor que paga melhor.
"A crise ficou com a cara da indústria no Brasil. O comércio e os serviços já retomaram", disse Flávio Castello Branco, gerente da unidade econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ele ressaltou que o crédito foi retomado, o medo do desemprego superado, o que sustenta o comércio e ajuda a indústria, mas o patamar de emprego de 2008 só será retomados em 2010.
Conforme Romão, descontando as influências sazonais, foram criadas 40 mil novas vagas em junho, abaixo das 50 mil de maio. "A confiança foi abalada pela crise e o crédito à pessoa física se recuperou, mas o crédito à pessoa jurídica ainda tem problemas", disse.
A economista-chefe da Rosemberg & Associados, Thaís Zara, disse que a produtividade da indústria - que é a produção por trabalhador - subiu 12% desde o fim do ano, mas está 5% abaixo do ano passado. O número de horas trabalhadas também se mantém abaixo de maio de 2008. Na prática, significa que os funcionários trabalham, em média, menos que no ano passado. "Ainda não é hora de euforia."
COLABOROU RICARDO RODRIGUES